Quem sabe dizendo um pouco do seu passado possamos compreender a íntima motivação da polêmica performance de Vera. Filha de uma robusta fotógrafa polonesa com um esguio professor de patinação artística de descendência japonesa, quando ela nasceu ambos já eram de certa forma velhos. Sua mãe queixava-se de que seu pai arrastava os chinelos e andava a pino mas com tanta moleza quanto a luz do verão. O pai respondia de ombros, porque tanto fazia para ele ir do portão da rua à sala em uma hora ou um segundo, já que não tinha pressa, mas deslizava atento e naturalmente. Para a mãe, contudo, essa imagem – a do arrasto que ia do portão da rua à sala – era por demais conflitante: ao contrário do que ela via em uma fotografia, ali estava a fatal ausência de movimento, algo como a morte acolhida confortavelmente em sua própria casa, como a morte deslizando até o seu lado, dia a dia, com chinelos de flanela.
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