quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

214 – das biografias, 57






Eis os únicos registros que ela guardou daquilo tudo. Estão desde então em seu quarto, na estante, ao lado de outras fotografias que são amargas e doces. E quando hoje ela conversa com Hélio sobre as suas experiências, ele fica muitas vezes em silêncio, bebe goles mais largos, alisa a toalha da mesa com a ponta dos dedos, com cuidado, perdido o olhar num ponto branco da parede branca. Havia para ela, naquela aposta, um sentido quase literal, uma estratégia e uma esperança: oferecer-se, nua em pêlo, ao enfrentamento do olhar do mundo; mas ontem, assim como agora, o que parece restar é um estranhamento fechado em si mesmo, uma completa impossibilidade de compreender como duas nádegas pálidas e inertes, viradas para o céu, podem ser capazes de alguma contundência.


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