domingo, 6 de fevereiro de 2011

204 – das biografias, 47



Tomaso nunca esteve em Veneza. Sabia bem que essas imagens românticas vendidas pelas agências de turismo eram animadas por projeções da nossa mente instável e frequentemente piegas. Se a cidade fosse refletida em suas próprias águas, pensava ele, poucos canais seriam tão charmosos, e pouco poderíamos suspirar sobre as gôndolas nos momentos entre as trocas da maré, quando a água fica parada e sobe no ar aquele denso cheiro de fedor. Para Tomaso, Veneza era a materialidade plenamente comunicante que devia em tudo sobrepor-se ao psiquismo daqueles que sonham à distância. Por isso pensava para as próximas férias um roteiro fora do roteiro, algum lugar preservado da imaginação mediana, como as florestas tropicais ou uma pequena ilha perdida no meio do oceano.


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