sábado, 5 de fevereiro de 2011

203 – das biografias, 46



Dia ou noite, Murilo desprendia-se com facilidade por lá e gostava mesmo de sempre voltar. Afinal, fora em Veneza que se conheceram. Mas não podia esconder certo peso nas horas em que era surpreendido por Vera gritando ao seu lado, como que para não morrer na noite, enquanto ele, ao contrário, flutuava com gosto em seus sonhos. De fato, aliás, para Murilo a relação com Veneza se dava por contraponto, como uma espécie de vista aérea e panorâmica: via-se com frequência voando sobre os canais da cidade, que macios se desenrolavam como serpentinas coloridas e tinham nas margens corpos de mulatas alternados com bustos de Cristo; e quanto mais alto voava, mais leve se sentia, até que Veneza desaparecia de todo, atendendo então pelo nome de “La Puta” ao som do excitante bater das castanholas.


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