terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

199 – das biografias, 42



Deitada na beira do penhasco, com a barriga colada à rocha, Margot esticou-se para ver lá embaixo. Seus olhos projetaram a queda em sua imaginação, e imediatamente seus músculos se contraíram em todo corpo, e ela apertou firme a mão de Tomaso, que estava ao seu lado. “Subir é sempre mais fácil”, disse Margot. “Na verdade, tudo depende de como é a descida”, respondeu Tomaso. Ela riu. Sem dúvida ela queria descer, e não cair. Alguém pode estar a poucos metros do chão, e então torcer o pescoço. Mesmo um pequeno degrau pode ser fatal, embora não dê nenhum frio na barriga se você decidir olhar para baixo. “Está bem, senhor sabichão, vamos lá”. Antes que Margot se levantasse, Tomaso puxou um fio de cabelo que estava preso na alça da sua mochila. “Olhe só”, disse ele esticando o braço no vazio, “nós somos tão pesados quanto este seu fio de cabelo”. No amanhecer sem vento, Margot viu um pequeno corpo sumir ao lado do imenso paredão de pedra. Esta foi a última descida de Tomaso.


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