quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

193 – das biografias, 37




Charles apertava as porcas com uma mão e comia o resto de um pão com a outra quando o sinal tocou. Queriam vê-lo no gabinete do gerente. Meio que deu de ombros, mas não podia deixar de ver do que se tratava. Logicamente, eram vários os caminhos possíveis para quem quisesse ir do galpão das porcas ao gabinete do gerente, e ninguém havia dito qual caminho ele deveria seguir. Lembrou-se do jequitibá rosa que estava em flores na praça ao lado da fábrica. Era sair pela porta principal do galpão das porcas, cruzar o refeitório pela lateral direita, seguir pelo galpão das peças de reposição, pelo almoxarifado, a lavanderia, o estacionamento de visitantes, o pequeno campo de recreação, subir pelo prédio do departamento comercial, sair pela saída que dava para a casa das máquinas, então o departamento de atendimento ao consumidor, a saída de emergência para empregados do setor C, e estaria lá: na diagonal do gabinete do gerente, o jequitibá rosa! E assim foi. E chegou, e se deitou na grama. E dormiu sob a árvore. No sonho que teve, o gerente sorria, cumprimentava com tapinhas nas costas o apertador de porcas e lhe acendia um charuto que, tossindo, ele fumava com satisfação.



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