terça-feira, 25 de janeiro de 2011

192 – das biografias, 36



Tomaso conheceu Augusto na margem sudoeste da foz do Rio da Prata. Na ocasião, um final de tarde, Augusto aparentemente tentava solucionar dois problemas: um de luminosidade, outro de inquietação alheia, já que seu filho, talvez entediado, talvez com fome, não parava de resmungar, andando de um lado para outro. Tomaso aproximara-se pela peculiar circunstância que servia de motivo para o fotógrafo: uma réplica de um avião de guerra estava fincada de cabeça para baixo num banco de areia. Pela distância, cerca de 100 metros da margem, Tomaso adivinhava que o avião devia ter uns 2 metros de comprimento. “Com licença, por acaso foi o senhor de providenciou o arranjo do avião no rio?”. Augusto, ajustando o foco, respondeu: “Qual o quê, meu jovem! Eu repito que isso só pode ter caído do alto. Agora não me pergunte como ou por qual razão”. Nesse momento, o filho inquieto, que devia ter lá os seus 17 anos, se chegou e estendeu a mão para Tomaso: “Pois o senhor não concorda que não há como? Não concorda que o agenciamento do significado é claro? Essa lengalenga democrática é o que nos atola na lama”.


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