segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

191 – das biografias, 35



Carlos entra no escritório pensando em nuvens e dá de cara com Murilo. Seus coletes são iguais, embora o de Carlos, neste momento, esteja muito bem passado, parecendo ser novinho, enquanto o de Murilo apresenta um aspecto cansado, combinando com seus olhos. “Emagrecendo assim, meu caro, uma hora você desaparece”, observa Carlos, já atrás de sua mesa, coçando o nariz fino e considerando com tristeza a pilha de papéis que preencherá sua tarde. Murilo se agita, sacode a caspa acumulada nos ombros; sabe, é claro, que as coisas não vão bem para ele. Ia começar a lastimar quando Carlos diz baixinho, sem se virar: “Esta janela, Murilo, é o mais longe que eu alcanço. É pouco, mas posso acompanhá-lo até ali. Se preferir voar, aconselho um tantinho de terra nos sapatos, para garantir o pouso. Porque tem gente que, nessa altura de nada, consegue só cair. Um degrau. É tão aborrecido que nem frio na barriga dá. Murilo, gostei do seu colete”.


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