segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

177 – das biografias, 25


Não existe nada mais comovente do que vacas brincando. E esse era o ponto-chave. Por isso Vera tornara-se vegetariana. E costumava explicar a Tomaso, carnívoro irredutível: “Hoje em dia, as vacas já não pastam, não andam e, principalmente, não brincam. Perderam a liberdade por completo. E o que falar daqueles olhinhos tão grandes e meigos? Elas não brincam mais, Tomaso, e ninguém se comove com elas”. Tomaso entendia, até lhe dava razão, mas não abria mão de seu pedaço de vitela. Ou melhor: ele entendia as razões do vegetarianismo de Vera assim como entendia as gargalhadas que ela soltava sempre que ouvia a palavra cônscio. “Ai, Tomaso, vai dizer. Existe palavra mais engraçada? Cônscio! Repete comigo: cônscio! É como soluçar no fundo de um poço engolindo uma azeitona, não é?”.


Nenhum comentário: