Roland poda uma jovem cerejeira. Quebra o silêncio quando vê o bambuzal adiante: “Contemple o bambu. Qualquer bambu, aquele ali. Ele é firme e ao mesmo tempo flexível; longo, mas também compacto; tão denso em suas fibras como oco em seu centro. Veja: é resistente às intempéries não porque luta contra elas, mas porque a seu modo as aceita”. Parece que Roland está a dizer, em outras palavras, que o bambu é um ser de essência dialética: sem sair de si mesmo, movimenta-se entre uma coisa e outra. E por isso ele pode ser tudo, menos radical: “Bambu ortodoxo é poste”, diz Roland com bom humor, enquanto varre as folhas do pátio. Se pensarmos bem, ele pode estar certo. Afinal, bambu não é algo que fica plantado ali, imóvel, como estátua pintada de verde. Na mesma medida em que acata o mundo, ele responde, ainda que sutilmente: vibra, assobia, enverga, estala. Deve ser isso que Roland quer dizer agora, descascando uma cebola: “Sua contundência é mínima e leve, fatal como um golpe ancestral que tivéssemos esquecido”. Sim, deve ser isso... As palavras – assim como o bambu – nunca são óbvias. “Tente entender sua força: a eficácia está em não ser eficiente”. Como as outras, essa frase fica no ar, dando voltas. Roland pára, enxuga os olhos num lenço, repara no vento. “Mas, para compreender sinceramente, é preciso parar de questionar a essência do bambu. Qualquer criança sabe disso. Pergunte a elas. ‘Bambu é uma planta que voa’, elas dirão. Ou então: ‘Ele é um grande nadador’. Pois acredite: não há nada mais verdadeiro.”
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