No meio da festa, ela trazia o rosto iluminado com brilhos, num contorno de tintas e purpurinas semelhante a asas de mariposa, e onde seus olhos escuros ocupavam o mesmo lugar dos olhos que muitas vezes as asas das mariposas mimetizam numa tentativa de defesa ativa, ou de ataque passivo. Ele, por sua vez, de cara limpa, mas turvado com boas doses de cachaça, seguiu da ponta do seu nariz até o queixo fino e alongado que ela tinha, enfim concentrando-se no brilho da pele branca e suada que realçava o volume dos seus seios, sobretudo quando ela pulava no ritmo daquela música terrível que então estava na moda. Ela, cheia de animação e cor, não o viu. Ele, por uma relutância muito pessoal em relação a festas, não se aproximou. E o que ficou para ele foram anos de produção assombrada em que retratava, sempre, uma mulher nua e de seios fartos que se metamorfoseava em borboleta, em diferentes posições, e por todos os lugares, até ocupar inteiramente o aposento onde ele vivia confinado, do chão às paredes e o teto, no final totalmente coberto com a imagem daqueles olhos sedutores, fatais.
sábado, 28 de maio de 2011
314- das condições de leitura, 21
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário