Conta que há muito tempo, numa pequena aldeia no Japão, viveu um homem que tinha um nariz enorme, tão grande que valia por dois, ou mesmo três, o que exigia cuidados especiais de limpeza e limitava a liberdade das refeições (principalmente no caso das sopas e chás). Esse homem escreveu um bocado, contos, poemas, tratados e pensamentos dispersos, mas tudo se perdeu. Ficou apenas a sua biografia, escrita décadas e décadas depois por um mexicano que não tinha um dos braços, usava um gancho de aço para supri-lo e acreditava em viagens no tempo e na transmutação dos corpos. Conta também que ambos, japonês e mexicano, têm até hoje a fama de grandes mentirosos, embora – ela ressalta – a fama do japonês tenha sido construída, é claro, pela biografia do mexicano. Conta que o intrigante da situação é que não se sabe afinal qual fama é justificada, pois se o japonês era mentiroso então o mexicano falava a verdade, e se o mexicano mentia então o japonês não era mentiroso. Conta finalmente que, quando conta a respeito disso tudo, sempre questionam a existência de figuras tão singulares. Aí ela se ofende: é como se fosse ela a mentirosa.
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