O quinto pastel-de-belém parece ter produzido em Augusto um efeito anestésico. Ele continuou a comer os doces como que sem esforço, mas também, pensava Tomaso, aparentemente sem prazer. Sentados num café às margens do Rio da Prata, os dois recém conhecidos falavam sobre tudo ao mesmo tempo, ou seja, entendiam-se superficialmente falando sobre nada. “Se me permite, e esta sua vinda é devida a quê?”, perguntou Augusto em certo momento. “Tenho interesse por aves aquáticas”, explicou Tomaso ao fotógrafo, “eu vim observar os hábitos de uma espécie de pato que há aqui.” Augusto olhou intrigado: “Pois eu lamento decepcioná-lo, senhor, mas nessas águas o mais próximo de um pato que irá encontrar é um mamífero, um tipo de ornitorrinco”. Nisso, o homem retirou uma fotografia do bolso: “Eu mesmo fiz este registro. Está vendo? Um instante raro, mas característico desta nossa região: um ornitorrinco ao lado de um flamingo-de-pescoço-reto”. “De fato...”, Tomaso murmurou. E então coçou o queixo, observou o homem enfiar mais um pastel-de-belém na boca e pensou consigo como seria se tivesse rumado para a Flórida.
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