sábado, 1 de janeiro de 2011

168 – das biografias, 22


“Se eu estiver dentro do período de tolerância de 15 minutos e quiser liberar a cancela do estacionamento, eu devo vir ao caixa primeiro, ou é só introduzir o cartão na máquina?”, pergunta Ferdinand à atendente. “É só introduzir o cartão na máquina”, responde ela. “Não preciso vir aqui?”, insiste ele. “Não.”, repete ela, sustentando o sorriso. E é sempre assim: sua obstinação pela certeza do entendimento mútuo através das palavras, sua necessidade quase doentia do cumprimento preciso da comunicação, sua ansiedade diante da possibilidade do significante não coincidir com o significado, em suma, seu esforço constante junto ao outro para certificar-se do que lê ou ouve faz com que Ferdinand sempre dê uma volta a mais. Os amigos riem disso e não deixam escapar as oportunidades para piadas. Os que não são simpáticos à sua pessoa ou que simplesmente não têm paciência, contudo, não apresentam o mesmo senso de humor. “Para eu chegar à lagoa é só seguir reto, não?”. E o passante: “Até o fim da avenida...”. “E ela segue reto?”, aperta Ferdinand. “Ora, meu senhor!...”.


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