Tomaso pensa na história de Tomas. Há algo inquietante nisso tudo, absolutamente leve mas além das suas forças, do seu entendimento. É tudo tão parecido e ao mesmo tempo tão diferente. E se a sua história fosse uma repetição, apenas ligeiramente alterada, de uma outra história, vivida por outro, pensada por outro? E se as suas relações amorosas, seus dilemas e jogos não passassem de um encenar de novo uma mesma peça? Essa pergunta (nada original, é certo) não o abandona, e vai cavando, cavando, como se esvaziasse Tomaso, que de repente se dá conta de estar feliz, feliz como há muito não se sentia. Se a sua vida é uma mesma vida, é ainda uma vida (como, aliás, também deve ser a de Tomas), então está livre, pensa. Não porque tenha assim descoberto o destino ou a divina providência, mas, ao contrário, por pensar que essa repetição, a própria vida é oca, não tem substância, finalidade, nem um antes ou um depois. É oca porque não obedece a nenhum desígnio. É na verdade como um eco, ou um disco riscado que foi esquecido girando: e ele fica assim, até que a palavra cantada se desliga da canção e se torna algo diferente, uma coisa estranha. E essa coisa estranha, enfim pensa Tomaso, sou eu.
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