terça-feira, 2 de novembro de 2010

108 – das novidades, 7


– Como você entende essa sua reação diante da melhora?

– Bem, eu não senti raiva, na verdade até fiquei feliz por ela.

– Isso é interessante. Mas vamos voltar ao começo. Como foi o início da relação de vocês?

– Eu costumava pedir créditos consignados para cobrir seus caprichos. Meias e outras roupas íntimas de segunda mão. Acreditava que essa condição não era patológica. Até o dia em que ela foi ameaçada por ficar devendo no mercado negro de peças suadas. Eles são impiedosos.

– Entendo. E como foi a seguir?

– A coisa só piorou. Paguei a dívida. Mas ela fugia de casa, passava dias sem dar notícias. Às vezes a encontrávamos em abrigos para mendigos, quase em coma de tanto cheirar meias e outras peças íntimas já mofadas, cheias de fungos nocivos.

– Mas, enfim, a internação foi positiva, mesmo à força.

– Claro, sem dúvida. Hoje damos a ela uma fatia de gorgonzola por semana. E isso basta para acalmá-la. Ela consegue levar uma vida quase normal.


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