Ela se deita nua por questões de segurança. É que
se mexe muito durante a noite, e se usar qualquer roupa, ela vai se enroscar no
lençol, no cobertor, no travesseiro. Até o próprio cabelo atrapalha e pode ser
um risco. Uma vez ficou sem ar porque conseguiu fazer com que a camiseta que
usava (mesmo bem justa, colada ao corpo, já para evitar desconforto) subisse
pelo seu tronco e se enrolasse em seu pescoço. Só sobreviveu porque, sonhando
que se afogava, e se debatendo, chutou a canela do marido, que acordou. Quer
dizer, para ela, durante a noite, de tecido basta a pele. E por isso seu corpo
fica sempre entregue, exposto, relaxado – sem vergonha. O que afinal garante suas
ótimas noites de descanso: o marido não percebe e ela não sabe, mas esse coque démodé, de muitos e muitos anos, acaba esfriando
as coisas.