Crê que
tem sonhado com ela, mas não sabe. Quando acorda tem as mãos suadas. Uma hora
dessas, quando abrir o guarda-roupa, ficará surpreso de não encontrar lá
dentro, pendurada num cabide de plástico, torcida, uma flor de papel encarnada.
E tampouco encontrará ali uma estrela, que elas são raras, e nem o vácuo, sabe
que isso é coisa complicadíssima. E ficará surpreso. Pode esperar de tudo durante
a tarde, qualquer coisa. Há muito tempo, num canto da sala, entre as toalhas de
banho, nos álbuns de fotos, nos recados colados na geladeira, entre as
correspondências (tantas contas), no lixo do banheiro, no espelho, se fabrica o
imprevisto. Mas é só no fim do dia que arrisca abrir os olhos, e pergunta em
voz sumida o que mais falta acontecer.