domingo, 22 de maio de 2011

308 - das visões de mundo, 11


As pessoas interrogavam quando seria. E perguntavam principalmente pelo primeiro que soube de tudo; como se precisassem de uma resposta pura, ou ao menos da figura que tinha as palavras exatas. Mas todos se respondiam basicamente com a mesma informação, e passavam essa certeza de um a outro, falando baixo que ele, o primeiro que soube, estranhamente era como qualquer um, só que tinha cabelos grandes e crespos, com ar de desleixo. Havia aglomeração, empurra-empurra, uma ansiedade contagiante. Alguns vinham com cães ferozes, e assim abriam algum espaço. Outros tentavam o suborno, mas logo desistiam, pois ninguém sabia ao certo a quem recorrer ou se havia ali algo próximo a uma hierarquia vigente. Era como se ninguém avançasse ou como se o tempo mesmo tivesse parado. Como se todos estivessem nus, e além de nus, carecas: não havia ninguém ali com um cabelo grande e desgrenhado o suficiente para ser confiável, para ser ouvido. Mesmo assim ninguém desistia. Cutucavam-se, apontavam – Será aquele? Não, impossível. Concordavam. Vista do alto, a cena poderia ter o aspecto de um formigueiro caótico sem a formiga-rainha, ou o de um show de rock pesado, mas sem a música, sem o palco e a banda, e quase em câmera lenta. Na verdade, curiosamente, o que predominava era um grande silêncio: como se bem ali habitasse o vazio.


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