Ana olha para cima e imagina que ao menos uma vida deve existir em cada um desses andares, do lado de dentro dessas janelas. Como são essas casas? O que está pendurado nas paredes – e de que cores elas são – e o que foi retirado delas, deixando um buraco, uma rachadura à vista? O que significa tal ímã de geladeira, tal peso de papel cheio de areia, tal caneca de café aparentemente tão comum? O que significa ter ou não um tapete felpudo na sala, diante da estante, e o que significa deixar as chaves sobre a mesa do centro em vez de colocá-las no móvel ao lado, dentro de uma caixinha onde se lê “vivo de molho”? O que pode significar a bagunça ou a organização, a limpeza ou a sujeira? E o que pode significar mudar as coisas todas de lugar e substituir coisas velhas por outras novas, ou então sempre deixar tudo como já está, acumulando pouco, mantendo quase nada? Há um copo com água ao lado da cama na hora de dormir? Há comprimidos? O livro de um amigo? Uma televisão ligada a noite inteira? Há só um colchão? Só a janela aberta, agora, e a cortina branca para fora, no vento, deixando escapar um adeus?
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