Iamuzu envia o achado para Paulo: o manuscrito, raríssimo, que primeiro reuniu a obra dispersa de um velho samurai que desistiu do seu ofício para fazer composições de contemplação à natureza, inaugurando um novo estilo poético. Iamuzu, na cartinha que segue junto na caixa bem embalada, se mostra eufórico e grifa que tudo no gesto desse artista confirma a fluidez e a simplicidade das imagens, como se os traços traduzissem em uma linguagem encantada o mistério inatingível dos rios mais serenos.
Verão nos trópicos, chuvas torrenciais. Com a enchente na avenida, o bói é arrastado, e a moto, e a entrega com o adesivo “frágil – cuidado”, e tudo mais, para um bueiro, que logo entope. Quando, depois de semanas, Paulo finalmente recebe a caixa, o manuscrito resume-se a alguns borrões informes que conservam o pouco que sobrou da tinta original. A caligrafia dos rios virada num leve cheiro de esgoto que não passa.
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