A testa constantemente ensebada empresta ao rosto de Edgar um aspecto que é algo esquivo. Na verdade, é essa área meio sem sentido que parece escorregar entre o que é propriamente testa e o que é, já, cabeça. Os fios do cabelo partido decidem por dar às vezes mais campo a uma ou outra. Mas como são soltos numa ponta e variam de acordo com o dia, fica esta impressão de um limite que escapa: como se o sentido desse espaço escorregasse, de fato, cabeça e testa abaixo, depois pelo nariz mais afinado e ligeiramente torto, para se sustentar, enfim, nos fiapos do bigodinho. Mas isso é sempre provisório, pois a inquietação persiste. E aquela região cresce sobre o resto do rosto e do corpo, toma conta de tudo, do ambiente ao redor, da máquina que fotografa Edgar, dos olhos que o encaram, da terra que ele pisa, do ar que respira. Agora há um imenso espaço indeterminado, como se vazio, muito silêncio e uns fios de cabelo desgrenhados. Em poucos segundos um bando de gatos aterrissa. Cada um deles se chama Wil, é preto e traz em seu pescoço um barril cheio de areia.
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