terça-feira, 23 de novembro de 2010

129 – das biografias, 13


“Eu vejo tantas janelas... E pensar que em cada uma delas escorre uma vida, ao menos, e sua imensa solidão, com suas mesquinharias, sofrimentos, sujeições de toda espécie e, é claro, algumas pequeninas alegrias que trazem a sensação de certa liberdade, mas que de fato mascaram a bruta, a pesada matéria da realidade, isso que nos arrasta bem ao rés do chão. E são muitas, muitas janelas, não? Em prédios sem fim, cidades que terminam em novas cidades, ainda mais vastas, devastadoras. E quando chega a noite todas essas janelas se iluminam, como se gritassem com um brilho silencioso, na direção do escuro, o incontornável da existência e...”

“Certo, Jean, já entendi. Temos que ser pragmáticos nessas horas. E a solução, eu lhe digo, é uma verdadeira revolução nas concepções urbanísticas: janelas imperceptíveis, totalmente integradas , ou melhor, totalmente camufladas na própria fachada dos prédios. Abertas ou fechadas, de manhã ou à noite, é como se não existissem! Está vendo? Design top de linha. Que tal?”


Nenhum comentário: