Na cozinha tem uma mariposa que vai sobrevivendo sem muito esforço, levada pelas térmicas que sobem da panela de arroz. As porções serão levemente empapadas, com cebolinha bem picada. É mãe a menina que costura ao lado, na máquina arcaica, pesada de tanto ferro fundido e memória. Essa menina aí, dentes com pouco cálcio e bicos dos seios rachados. O range-range termina de furar a pele do vestido que será velho, de qualquer maneira. Um estranho entra por aquela porta lateral e se dirige, mudo, para o meio. Traz um martelo e ouve um sino de bronze lá fora. Alcança um pote de vidro empoeirado, tenta desenroscar a tampa. A mariposa voa até a boca do pote, pousa e desaparece. No quarto, vento é um tufo de poeira e cabelo.
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